O menino-efeméride Diego Moraes

NEGRO GATO DE ARREPIAR!

Diego Moraes, revelado no reality show Ídolos, faz show arrasador no Rio de Janeiro e confirma as apostas em sua ascensão estelar

Diego Moraes no palco do Rival: extensão vocal e presença de cena arrebatadoras


E o que são os gênios, afinal? A que vêm? Quais seriam a sua meta e a sua função? Que papel desempenham neste mundo para serem tão especiais, quase alados, diante da multidão que os admira? Seriam seres que flertam com o inusitado, que manifestam dons diferenciados, que atuam como singulares espécies da já tão singular raça humana? E qual é o preço, e qual é o critério, e qual é a mais objetiva forma de diferenciar um talento nato de uma genialidade? Onde fica a balança que discerne esses dois pesos?

O Rio de Janeiro assistiu, na noite do dia 20 de abril, no Teatro Rival, ao show de Diego Moraes, segundo colocado na ultima edição do programa Ídolos de 2009. Casa cheia, um cerco de pessoas curiosas para ver, ao vivo, a atuação do menino de apenas 23 anos.

E que mistérios cercam Diego Moraes?



Identidade artística e personalidade: um jovem cantor marcado pela diferenciação

É comum, dentro do universo patenteador de mitos da televisão, vermos celebridades e talentos – uns verdadeiros, outros nem tanto – sendo revelados. A massificação gera popularidade imediata. A pulverização das chamadas redes sociais ajuda a ampliar esse espectro. Se Andy Wahrol preconizava que a profusão de famosos teria cada vez mais uma progressão geométrica, estão aí os nossos dias atuais para comprovarem a tese do mestre pop. Apesar disso, não tem jeito: um pouco de sorte e algum talento podem perpetuar os 15 minutos dessa fama.

Acho muito pouco provável que o cantor Diego Moraes saia de cena. Pelo contrario: está apenas entrando. Numa comparação de fácil entendimento, diria que esse menino está para a música popular brasileira como Neymar está para o nosso futebol. No caso de Diego, o drible está na garganta. A extensão vocal e o furor técnico de Diego não se limitam, no entanto, aos ziguezagues que muitos cantores com semelhantes dotes costumam fazer. Diego tem o olhar e a presença de palco que só os grandes têm. Mais do que isso: ele tem referências. Canta com verdade absoluta um riquíssimo repertório que passeia por Chico Buarque (Atrás da Porta, Partido Alto), Cartola (As Rosas Não Falam), Elis (Alô, Alô, Marciano), Renato Russo (Pais e Filhos), Gil (Palco e Punk da Periferia) e outros afins. Flerta, com rara sensibilidade e ousadia, com pérolas do nosso universo pop como Rita Lee (Pagu), Lulu Santos (Como Uma Onda no Mar), Herbert Vianna (Lanterna dos Afogados) ou o Rei Roberto (Negro Gato).


Estilo black power: visual arrojado e autoral


O mais interessante disso tudo, porém, é que, inebriados com a riqueza desse repertorio escolhido, abrimos a guarda para vê-lo cantar e imediatamente constatamos: ele, por si só, já basta!

Ele é o show!

Afinal de contas, o que dizer de um menino dessa idade que faz de um hit brega como “Garçon” um momento ápice de um show - numa releitura de deixar o próprio Reginaldo Rossi achando que sua música era a Marselhesa, de tão emocionante?

Sem incensos gratuitos nem floreios precipitados, acredito que Diego seja o toque de ousadia que estava faltando à nossa MPB. Tão rica em talentos nas ruas e barzinhos das cidades, parecia por vezes combalida na cansativa fórmula das gravadoras de empastelar cantorezinhos bregas (sucursais de sertanejos travestidos em outros gêneros musicais). Faltava aos novos talentos uma envergadura pessoal para que pudessem representar a si mesmos, sem perderem a imagem para a armadura imposta em prol da cultura de massas. O que se vê além de Diego é um cenário de “emos”, pseudo-pagodeiros eletrônicos, funkeiros em apologias sórdidas ou roqueirinhos sem discurso com pose de quem lambeu sabão. Pouco mais do que isso. Quando muito, vemos gente boa... mas “igual”! O chamado “mais do mesmo”. Pior ainda para os “autorais”, que nos brindam com suas pérolas dadaístas, num estilo pretensioso e pouco contributivo às tradições de nossa música.


Sensibilidade acima da média para interpretar clássicos da MPB


Mas vem um menino-efeméride como Diego, de passagem súbita por um programa de calouros de televisão, e revitaliza a causa, enrijece a musicalidade, revigora a compostura, estufa o peito, orgulha-se e diz: “meu som é mais Brasil”.

A efeméride passa e fica.

Ele não cabe nas fórmulas pré-prontas, porque o talento genuíno não pode ser previsto, nem antecipado, nem desenhado: ele floresce, arrebata, rasga a roupa que tenta vesti-lo, destrincha a camisa-de-força, rompe a armadura.

Diego é uma força da natureza, ele é não-controlável. É maremoto, terremoto, furacão! Petulante, arrojado, empresta o vozeirão a várias “vozeirinhas”, encaixando falsetes e trinados a uma voz que recupera o orgulho do intérprete – algo cada vez mais raro em nosso cenário musical. Lá está a sua negritude, nos cabelos que remetem a Tony Tornado, James Brown, Jimmy Hendrix, Sandra de Sá e Elza Soares. Mas é uma negritude essencialmente brasileira, nada panfletária. Uma questão de atitude e identidade tão nítidas que fazem do cantor um tipo excêntrico, um autêntico performer, dono do palco em que atua.

O grande diferencial de Diego, aliás, é este: a presença de palco. Sem extravagâncias, sem arroubos de estrelismo, ele sabe se portar e conduzir com impressionante vigor o ritmo de cena, vivenciando o que canta sem maneirismos faciais ou apelos fáceis. No palco, Diego encarna os personagens de suas canções. Emociona-se integralmente, mas também provoca e estimula o público com sua entrega total. Não obstante quaisquer observações que outros mais entendidos de dotes musicais queiram fazer, Diego é o que se pode chamar de um artista completo. Mesmo estando na chamada “flor da idade”.


Show com conotações urbanas: conexão com as pessoas e com a cidade


O cenário do show foi um poste de luz, numa referência à urbanidade. É fácil entender: o canto de Diego Moraes surge como um canto da selva de pedra que é a cidade, engajado, que flui das ruas como um cântico de esperança, um grito lancinante e bem trabalhado para alcançar ouvidos e corações.

Artistas genuínos - quaisquer que sejam seus destinos na mídia - como Diego Moraes custam mais a surgir, porque não podem ser pré-fabricados nem costurados em laboratórios de gravadoras ou de televisão. Esta é a nossa esperança: que esse canto desafiador e urbano irrompa pelos becos e ruas da cidade e, a exemplo daquela canção citada pelo poetinha Drummond, cumpra seu sacerdócio, fazendo despertar os homens e adormecer as crianças.




quinta-feira, 22 de abril de 2010 às 18:57 , 5 Comments

CARNAVAL 2010 - Depois dos desfiles

A subjetividade continua. Inevitável. A gente só sabe o que vai acontecer na avenida depois que acontece. E as opiniões são sempre muito pessoais.

Meses após escrever sobre o que o disco das Escolas de Samba do RJ prometia, volto aqui revendo vários pontos, já com base nos desfiles que encerraram na manhã desta terça-feira na Marquês de Sapucaí.

A idéia é propor uma reflexão. Nada de julgamento derradeiro, porque esse negócio é difícil. Fica minha colaboração, com respeito a todos os participantes e, sobretudo, reconhecendo os esforços de todas as agremiações. Porque mesmo quando não dá certo, a gente sabe que há muito suor e muita paixão envolvidos.

Segue a minha análise, como colaboração.

UNIÃO DA ILHA

A escola é uma eterna queridinha dos corações de todos. Só o seu retorno já seria razão para grande festa. Sem ela, realmente, o Grupo Especial fica menor. A União voltou sob bela entonação de Ito Melodia, e trouxe uma escola organizada, mas com uma marca mito clara: parecia uma petit Imperatriz sob o comando e Rosa Magalhães. Acho que a carnavalesca dispensa comentários, mas precisa se superar, porque a “onda Paulo Barros” desestruturou os carnavalescos tradicionais. O primeiro a dizer isso foi o próprio Renato Lage. Outra coisa: ela parece não saber trabalhar com pouco dinheiro. Tinha carros com acabamento duvidoso, coisa rara de se ver em sua biografia. A Ilha fez um desfile animado, correto, o samba é bonito, mas não pareceu nada inovadora. Foi bom pra ela, mas não contagiou o público além de seu carisma natural. Assegurou sua manutenção dentre as grandes, é claro!

O melhor: o enredo teve leitura clara e refletiu a simpatia da escola insulana

O pior: havia carros de acabamento duvidoso,com a parte de trás quase despencando.

IMPERATRIZ

Dominguinhos, Max Lopes e Luíza Brunet voltaram. A Imperatriz tinha um samba lindíssimo, mas seu enredo – vamos admitir – foi uma reedição do “Império do Divino”, feito anos atrás pelo Império Serrano. Ou seja, um enredo requentado. Parecia exatamente isso: um misto de “Liberdade, Liberdade, Abra as Asas sobre Nós” com “Império do Divino”. Foi, no bom francês, deja vu, apesar de um trabalho plástico imponente e da forte emoção da comunidade de Ramos. Não dá pra ganhar.

O melhor: o belo samba da escola de Ramos e o luxo das alegorias de Max Lopes.

O pior: a comissão de frente, sempre um trunfo da escola, embora bonita, não trouxe muitas inovações, em uma solução esperada para o enredo que trouxe.

UNIDOS DA TIJUCA

Exuberante, contagiante. Mesmo com pouco requinte e longe das mentes perfeccionistas mais conhecidas do carnaval, Paulo Barros é, de longe, o mais inventivo e mais carnavalesco dos carnavalescos que estão aí. De que adianta esculpirem obras de arte se são sempre as mesmas coisas todo ano? Paulo é um mestre na linguagem, na comunicação, na transposição de idéias. É o único carnavalesco do Rio (do Brasil?) que sabe fazer carnaval interativo: provoca o público, traz fantasias que nunca se viu, elabora carros com engenharia inovadora. Ele brinca o carnaval, enquanto os outros são sérios e sisudos. Falta-lhe mais brasilidade, mas a forma com que ele americaniza os desfiles não deixa de ser contagiante. É um artista universal! A Unidos da Tijuca sobrou este ano. Não tem nem comparação: só uma zebra ou um dindin por debaixo do pano para desbancá-la. É a campeã do Estandarte, e deve ser a campeã de verdade, também! Um show!

O melhor: o carnavalesco Paulo Barros mostrou-se insuperável quando se junta à escola do Borel. A comissão de frente foi extraordinária, Michael Jackson ressuscitou na folia e a presença de super-heróis deu um toque brincante ao desfile.

O pior: Paulo precisa melhorar o acabamento de suas alegorias. Falta-lhe um toque de perfeccionismo, talvez.

VIRADOURO

Foi um susto! A escola teve uma queda tão vertiginosa de produção que parecia ser sábado de carnaval. Apequenada, sem força, sem emoção, com um enredo que parecia querer carona no “La Bamba” da Vila, foi a pior escola deste ano. Niterói deve estar assustada: a Viradouro é a mais séria candidata ao rebaixamento.

O melhor: salvou-se a sua bateria.

O pior: a pequenez com que desenvolveu seu desfile ficou abaixo da tradição de luxo da escola de NIteroi.

SALGUEIRO

A senha foi dada por Renato Lage: ele comentou, antes de seu desfile, que Paulo Barros tinha se superado. E tinha mesmo. Não existe, plasticamente, um carnavalesco melhor que Renato. O acabamento de suas fantasias e alegorias, a forma didática com que apresenta seus enredos, a elegância e a inteligência de suas elaborações são raras de se ver. É a reencarnação de Arlindo Rodrigues. O Salgueiro estava tecnicamente perfeito. O samba é ótimo e a bateria também. O que faltou, então? Faltou superar o efeito Paulo Barros. Ninguém consegue. O Salgueiro estava tão certo e tão perfeito que parecia... igual. Não teve defeitos, mas não conseguiu elevar suas qualidades. Renato, assim como Rosinha, precisa rever seu estilo. Se ele se reinventar, ninguém o supera. Mas está acomodado em sua perfeição. O mal de ser perfeito é esse. Salgueiro veio lindo, imponente. Mas, ano passado, ganhou porque Paulo Barros estava escondido na Vila, atrás de Alex de Souza. Com Paulo Barros solto, a genialidade de Renato ficou oculta. Ano que vem – podem ter certeza – Renato se superará!

O melhor: o samba do Salgueiro estava na boca do povo. Embora não tenha contagiado as arquibancadas como se esperava, sustentou bem o desfile.

O pior: a escola parecia abaixo do ritmo para quem tentava um bicampeonato.

BEIJA-FLOR

Deu no que já se sabia. A Beija-Flor é uma máquina de carnaval. Grandeza, perfeição técnica, rios de dinheiro, um luxo inigualável. Mas o peso de um enredo tão sério eliminou o que a Beija-Flor sempre teve de original em sua história: a picardia, a revolução. A Beija-Flor também virou um escola “igual”. Todo ano a mesma coisa. A critica é construtiva: a escola de Nilópolis descobriu uma fórmula tão perfeita que também se acomodou. E ficou igual todos os anos. Este ano pareceu muito mais pesada e cansativa. Sisuda demais, hermética em enredos que ela parece entender e até contar muito bem, mas que não mais contagiam. Linda, sempre. Mas muito igual. E pior: com o dinheiro do Arruda no bolso, sem poder falar dos escândalos que nos envergonham tanto. Não dá pra imaginar uma escola poderosa como a Beija-Flor sendo subserviente assim. Joaosinho Trinta nos defenda! Desta vez não deu...

O melhor: o acabamento de suas alegorias era impressionante!

O pior: o enredo ficou soturno e os carros ficaram pesados demais, comprometendo a evolução da escola.

MOCIDADE

Alegre, ousada, irreverente! Renascida das cinzas a nossa simpática e sempre querida Mocidade! Fez um desfile com a sua cara, embora ainda muito despretensioso para uma escola competitiva como é a Padre Miguel. As alegorias eram grandes e com muito movimento. O enredo muito claro, didático. Faltou um pouco de definição nas cores – ora muito claras e opacas, ora muito misturadas, confundindo a leitura visual. Particularmente não gosto do refrão que tem um “coração saindo pela boca”. Mas todo mundo cantou e foi uma grande festa. Importante foi ver a Mocidade recuperando sua estima e fazendo um belo desfile. Não dá pra ganhar, mas marcou presença e trouxe a Vila Vintém de volta às boas lembranças do carnaval.

O melhor: o samba, por sua melodia fácil, contagiou as arquibancadas e fez da escola uma das mais cantadas este ano.

O pior: a escola trouxe muita transparência e se perdeu um pouco na mistura de cores, confundindo a visão geral da escola.

PORTO DA PEDRA

Paulo Menezes se superou. A Porto da Pedra figurava fácil nas listinhas de candidatas a cair. Não sei por que, mas figurava. Paulo Menezes fez uma leitura irreverente e didática da moda, desde a idade da pedra até as passarelas. As fantasias eram criativas, as alegorias também. O samba da escola conseguiu atrair o público, e a escola foi crescendo do meio para trás de forma impressionante. A meu ver foi um dos melhores desfiles do ano, merecendo até voltar no sábado.

O melhor: Paulo Menezes abusou da criatividade nas fantasias e alegorias. O desfile cresceu muito na segunda parte e, quando entrou o estilo rococó, foi um primor de plasticidade.

O pior: O carro abre-alas podia ter um impacto maior, mais condizente com o que a escola veio mostrando depois.

PORTELA

Estranho. A Portela precisava se reinventar, é verdade. Vinha forte ano após ano. Tem um chão impressionante e uma bateria que deu um salto absurdo, sendo hoje uma autêntica Tabajara do samba. Era um estandarte assegurado. Por que pagar o preço de sua inovação com carnavalescos sem peso, sem nome e estreantes? O risco não foi bem calculado. A sinopse da escola foi feita duas vezes, e a versão final só foi entendida quando começou a disputa de sambas. Ou seja: os compositores é que conseguiram traduzir, em suas letras, o que o enredo queria dizer. Mal sinal. O samba de Diogo Nogueira (que preferiu dançar frevo no dia do desfile) nunca foi um queridinho. Mas aquela bateria incendiária de Mestre Nilo levantaria até marcha fúnebre. E o samba até funcionou muito bem. A escola veio com grandeza, com uma fibra impressionante. As fantasias eram criativas e usavam materiais interessantes. Foi a volta de uma escola com suas cores: Portela (e Mangueira mais tarde) foram as únicas que respeitaram as cores de suas bandeiras. Mas as alegorias tinham leitura complexa e o enredo ficou estranho. Outra coisa: o presidente não pode gostar mais de sua esposa do que da águia. Pelo menos no dia do desfile. Essa insistência de nos fazer ver a esposa dele primeiro, a cada ano, quase deu em tragédia. O queijo despencou e quase detonou as duas – a esposa e a escola. Não dá pra ganhar, pode voltar no sábado, mas, se mudou tanto quando dava certo, deve mudar muito para o ano que vem.

O melhor: a bateria da escola vinha sendo, desde os ensaios técnicos, digna merecedora da alcunha de "Tabajara do Samba". Brilhante!

O pior: não se pode esconder o símbolo mais tradicional do carnaval do Rio - a Águia da Portela - nem mesmo atrás da mulher do presidente da escola! Se as alegorias não estavam nada claras, mais estranho foi entender a figura despencando à frente do abre-alas. Foi um aviso dos céus: tirem essa mulher dali!

GRANDE RIO

Eu preferia nem comentar. Grandiosa, rica, esteticamente muito bem resolvida por Cahê Rodrigues, mas com um patrocínio feio e escuso, que poluiu a escolha do enredo e - pior! - o refrão principal do samba. Só por esse “conjunto da obra”, acho que perde pontos valiosíssimos. Uma escola de samba, por mais moderna que seja, não pode ser tão comercial. E a Grande Rio, com seus camarotes de artistas e patrocínios cantados nos sambas, está virando uma empresa que desfila todo ano. Uma pena. Apareceu bem, mas o enredo era requentadíssimo (Chico Spinoza fez praticamente a mesma coisa em 2005 na Caprichosos). Alguém me disse que fazer um desfile reprisando os melhores desfiles dos outros é, no mínimo, oportunista. E eu pergunto: se enchendo de artistas, colocando patrocinador no refrão do samba e requentando enredo dos outros, alguém tem dúvidas de que a Grande Rio – orgulho de Caxias – está virando um oportunismo nato?

Uma intenção muito ruim. Como esteve tecnicamente bem, não sei se isso tudo pesaria. Jurado não entende nada e não lembra os cinco últimos desfiles. De repente volta entre as campeãs. Mas foi sofrível, a meu ver.

O melhor: Cahê Rodrigues confirma ano após ano o seu crescimento, e fez um desfie plasticamente impecável.

O pior: o enredo é indizível, tanto por ser requentado quanto por ser exageradamente comercial.

VILA ISABEL

Confesso que a Vila ficou devendo. Seu samba merecia o estandarte que foi pra Imperatriz, sem enredo foi uma preciosidade. Mas Alex de Souza – candidato a novo gênio – ficou m passo atrás. Um passo atrás em alegorias, um passo atrás em figurinos, um passo atrás em emoção. A gente via, antes do desfile, a Vila muitos passos à frente. Mas ela passou um passo atrás. A Lindaura soluçou e a dama do cabaré não dançou. Uma pena, porque esse samba será o mais lembrado do ano. Por muito tempo os “auspícios de um cometa” serão lembrados como jóia poética do carnaval 2010.

O melhor: a comissão de frente deu um show de tradição e emoção, revivendo os malandros de morro, amigos compositores de Noel. E o samba de Martinho foi um espetáculo à parte.

O pior: a idéia das máscaras da comissão de frente era boa, mas o efeito era feio: os rostos ficaram muito deformados.

MANGUEIRA

Salva pelo chão. Mangueira fez, plasticamente, um dos desfiles mais feios de sua história. Junto com a Viradouro, as alegorias mais feias do ano. Bonecos de plástico tão feios que pareciam desfile da Intendente Magalhães. Não tem carinho pela verde-e-rosa que esconda isso. Nem as baianas estavam bonitas. Garra, paixão, emoção e verdade a Mangueira tem de sobra. E só isso poderia salvá-la do rebaixamento. Mas nem de longe ela deve figurar entre as campeãs, apesar do oba-oba da imprensa. Seu enredo também era requentado: a Portela fez um “Essa Gente Bronzeada mostra seu Valor” que também falava de música. E era um enredo Frankenstein da própria Mangueira: tinha Tropicália, Chico Buarque, Bossa Nova, Tom Jobim... ou seja, arremedos de enredos anteriores da própria Manga. Troféu Mau Gosto do ano: a bateria vestida com uma fantasia primária, sendo (eca!)... enjaulada! Tinha sentido, mas plasticamente foi horrível e pesado demais. Pior que isso, só Carlinhos de Jesus interpretando pateticamente um soldado repressor, junto a vários outros pares. Como diria o Ito Melodia... “caramba!”. Fora a emoção (que foi gloriosa, é claro), um desfile para ser esquecido.

O melhor: a força contagiante de uma escola que, como seu refrão, "desceu o morro" e encheu a Sapucaí de samba de verdade.

O pior: as alegorias da Mangueira reeditaram uma estética perdida carnavais atrás, muito retrógrada e pobre. Havia bonecos de plástico sem movimento muito feios. Vinicius de Moraes, por exemplo, era uma escultura sofrível. E a bateria enjaulada... sem comentários! Idéia coerente com o enredo, solução deplorável.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010 às 08:48 , 0 Comments